Às vezes duvido ser neta da minha avó. A minha avó com os
seus 91 anos tem uma ligação com os números fantástica, sabe todas as datas
importantes, sabe todo o dinheiro que tem em aplicações (algumas ainda em
escudos e faz a conversão para euros instantaneamente), sabe o dinheiro que nos
deu ao longo da nossa vida, sabe em que dia mudou de casa… e mudou algumas
vezes. Eu além dos aniversários, e não é de toda a gente, nunca fixei datas. Nunca
sei o dia em que comecei um namoro, nunca sei muito bem as idades dos filhos
dos meus amigos, nunca sei há quanto tempo fiz uma viagem ou acabei o curso. No
meio desta confusão de datas e de números há os dias banais que se misturam com
dias com significado.
Há dois anos atrás a minha vida estava um autêntico turbilhão.
Estávamos a tratar do funeral do meu pai. Quando recordo esses dias penso que
Fellini se estivesse vivo aproveitaria a história sem hesitar. No fim houve a
despedida, mas fica a eterna gratidão por tudo o que tenho com base nos pilares
que ele me deixou. Sou quem sou porque parte de mim é sua filha, sou quem sou
porque parte de mim foi construído com os meus irmãos… Sou Mafalda, Luísa ou Fáfa…
Hoje estive a tomar café com
alguém que ainda me chama “Fáfa”, já muitas poucas pessoas me tratam assim mas,
sempre que acontece, faz-me voltar à infância, aos dias simples com todos à
minha volta, e é muito bom.